Séries e filmes, por mais realistas que sejam, nem sempre são realmente fidedignos à realidade, né?! Tem a licença artística, o sensacionalismo e todos outros tipos de remelexos que a produção incrementa para garantir o sucesso da série, que depende da audiência! Então...

Confesso aqui que fui submergida nessa vibe de ficção x realidade logo após uma das conversas da madrugada com a minha amiga também enfermeira Aline, que enquanto assistia ao episódio piloto de Grey's Anatomy trazia alguns tópicos para serem debatidos. E falamos sobre certos procedimentos mostrados no episódio que foram executados de maneira não muito de acordo aos protocolos e coisas do tipo. Como por exemplo, três choques seguidos em uma Parada Cardiorrespiratória, o ângulo para realizar o acesso venoso periférico do paciente... Enfim, coisas bem técnicas da nossa profissão. 

Então, tentando encontrar algo que comentasse sobre a discrepância entre os procedimentos realizados nas séries médicas com os do mundo real, que cheguei até um artigo científico falando sobre o Efeito Grey's Anatomy.

O artigo cuja tradução livre do título é "Efeito Grey's Anatomy: representação televisiva de pacientes com trauma pode cultivar expectativas irreais em pacientes e família após uma lesão", foi publicado na Trauma Surgery & Acute Care Open, de autoria de médicos do Hospital St. Joseph nos Estados Unidos. 

O estudo tinha por objetivo analisar o curso de cuidados e resultados obtidos nos casos clínicos da série versus realidade, e como isso pode influenciar na percepção dos espectadores, possíveis pacientes em potencial. 

Foram analisados 290 pacientes retratados em 269 episódios das 12 temporadas exibidas entre 2005 e 2016 comparados com 4.812 pacientes atendidos em hospitais americanos obtidos através do Banco Nacional de Casos de Traumatismo dos EUA (NTDB) no ano de 2012.

Como podemos observar na tabela retirada do próprio artigo, houveram alguns aspectos em que a série apresentou maior número nos registros em relação aos casos reais. Como a mortalidade que foi 3 vezes (22%) maior que na vida real (7%). Em relação a pacientes que saíram diretamente da sala de emergência para sala de cirurgia, o drama médico apresentou 71% contra 25%. Outro detalhe importante foi que 50% dos pacientes da atração tiveram alta hospitalar em menos de uma semana enquanto que para os pacientes reais, o valor é de apenas 20%.


Em contrapartida, o seriado também apresentou números baixo em relação a realidade, no qual 6% dos pacientes foram encaminhados a uma unidade de cuidados de longa duração em vista de 22% dos registrados do NTDB.

Para os pesquisadores, os seriados médicos da televisão tendem a mostrar enfermidades raras, manifestações estranhas de doenças comuns, lesões  extravagantes, e episódios de mortes em massa. Em que os pacientes retratados passam diretamente da emergência para a cirurgia, ficam menos nos hospital e têm uma rápida recuperação funcional após graves lesões. E,a isso se dá o efeito Grey's Anatomy por consequentemente ser o motivo da criação de falsas expectativas entre os pacientes e suas famílias, geração da percepção tendenciosa da realidade.